Tecnologia, pandemia e meio ambiente

Para compreender como as sociedades se organizam, precisamos olhar para a evolução da ciência e da tecnologia e sua aplicação na produção e distribuição de bens e serviços. A tecnologia não é boa ou ruim por si, mas seu desenvolvimento pode ser movido por intenções e para objetivos diversos – e seu uso pode gerar impactos sociais e ambientais positivos ou negativos. É possível, por exemplo, desenvolver estudos científicos para criar produtos sustentáveis (como o recente exemplo de um adesivo à base de semente de mamona desenvolvido por uma pesquisadora) ou, então, para criar agrotóxicos ou modelos de produção agrária cada vez mais agressivos.

E o que as cidades têm a ver com isso? Embora essa discussão pareça estar longe da nossa realidade urbana, restrita aos territórios rurais, a verdade é que integramos todos um só sistema e que campo e cidade estão, no fundo, conectados: o que é feito em um, afeta o outro. É por isso que estudiosos têm chamado as crises do nosso século de “crises sistêmicas”: a mudança climática, a diminuição da biodiversidade e a intoxicação de organismos com produtos químicos (incluindo os nossos) afetam a vida de todas as pessoas, ainda que em graus distintos, a depender da vulnerabilidade das populações (e seu acesso – ou falta de – à saúde, moradia e outros direitos).

Epidemias e pandemias, aliás, também estão conectadas a essa discussão. Estudos têm apontado que a degradação ambiental e a agropecuária de alta escala criam um ambiente que favorece a mutação e transmissão de vírus para a nossa espécie. Outro tipo de relação entre meio ambiente e pandemia que tem sido apontada são os impactos ambientais do isolamento social, decorrente da covid-19, como é o caso da melhora, ainda que transitória, da qualidade do ar. Essas duas questões, juntas, apontam que não só podemos como devemos tomar, com urgência, decisões para mudar a nossa rota coletiva e, assim, evitar o aprofundamento dessas crises sistêmicas.

No âmbito das cidades, devemos formular e adotar soluções de sustentabilidade urbana. Isso é especialmente importante porque se estima que em 2050 mais de 2/3 da população mundial irá habitar áreas urbanas e que a maioria desse crescimento urbano ocorrerá em países em desenvolvimento. Com o aumento de demandas por bens e serviços nas cidades, será importante, mais do que nunca, pensar novos modos de tornar a produção e o consumo mais inclusivo e menos prejudicial ao meio ambiente. Não por acaso, um dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU é “tornar as cidades e os assentamentos humanos inclusivos, seguros, resilientes e sustentáveis”.

Mas como podemos enfrentar esse grande desafio que está colocado a nossa frente? Sem dúvida, a resposta não é simples, mas avalio que a tecnologia e a inovação, muitas vezes utilizadas para aprofundar modelos produtivos e padrões de consumo predatórios, devem ser aliadas nesse processo. Cidades inteligentes e humanas devem desenvolver políticas e ações voltadas para esse fim. Adotar uma gestão responsável e consistente de resíduos sólidos, incentivar negócios de impacto socioambiental positivo, prover ou fomentar formas de transporte urbano mais ecológicas, incentivar adoção de soluções de responsabilidade ecológica pelas empresas, garantir habitação digna e saneamento básico a todos, promover a redução de desigualdades, qualificar políticas para prevenção de desastres, melhorar a prestação de serviços públicos, fortalecer a economia local e cuidar de suas áreas verdes são alguns exemplos importantes.

A boa notícia é que muitas pessoas já estão lutando para que isso se torne um compromisso global. Um exemplo importante disso é a Nova Agenda Urbana, resultante da Habitat III, a Conferência das Nações Unidas sobre Habitação e Desenvolvimento Urbano Sustentável. É nossa tarefa, como Município, pensar em como transpor essas diretrizes para nossa realidade local, além de valorizar iniciativas já existentes nos nossos territórios que contribuem para esses objetivos.

É urgente pensarmos novos modelos de desenvolvimento sustentável e nossa cidade precisa discutir como pode executar essa tarefa coletiva. A proteção do meio ambiente demanda não apenas uma mudança cultural, mas também soluções em diversos níveis (municipal, estadual, nacional e transnacional) e por diversos atores (empresas, governos e sociedade civil). Apesar da necessidade dessa mudança global, precisamos também nos responsabilizar, juntos, na esfera local, traçando estratégias de longo, médio e curto prazo e também levando a preocupação ambiental para todas as políticas setoriais municipais.

Para podermos conversar mais sobre este assunto tão relevante, convido todas e todos para discutir na próxima segunda-feira, 1º de junho de 2020, às 18h, no webinário “Tecnologia e Meio Ambiente: Inovação e Cidades Sustentáveis”, com Sophia Picarelli, Gerente de Biodiversidade e Mudanças Climáticas no ICLEI, rede global formada por mais de 1.750 governos locais e regionais comprometidos com o desenvolvimento urbano sustentável. O evento será transmitido pelo meu perfil do Instagram. Participe!

Artigo publicada em: 27 de maio de 2020

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