Em frente ao shopping Cidade Jardim, um dos mais luxuosos de São Paulo, está uma das entradas do parque linear Bruno Covas, às margens do rio Pinheiros. Considerado o principal projeto urbanístico da gestão do ex-governador João Doria e aposta de legado do então tucano para a capital, o local possui boas atrações, mas acesso difícil, especialmente para quem vai a pé.
O espaço faz parte do projeto de revitalização da região da marginal do rio Pinheiros e, ao todo, deve custar R$ 58 milhões —que vão ser bancados 100% por investimentos privados. Entre os patrocinadores estão empresas como Santander, Heineken, Votorantim, Sabesp, Asics, Caloi e Strava.
As obras começaram no ano passado e a expectativa do poder público é que os investimentos continuem até 2026.
Até agora, já foi inaugurado um trecho de 8,2 km que vai da sede do Pomar Urbano, na avenida Guido Caloi, até a ponte Cidade Jardim.
Esse espaço já em funcionamento tem ciclovia, pista de caminhada, parquinho, áreas de piquenique, estações de ginástica e mirante —parte dessa estrutura já existia antes do início do projeto, mas foi revitalizada, enquanto parte é de fato nova.
Frequentadores ouvidos pela reportagem disseram aprovar as recentes melhorias, mas afirmam que outras são necessárias.
Para quem vai a pé ou de bicicleta, o acesso pode ser feito via CPTM (Companhia Paulista de Transportes Metropolitanos). A melhor opção é desembarcar na estação Vila Olímpia, da linha 9-esmeralda, mas as sinalizações não são claras e, dependendo do local do parque a que o visitante queira chegar, o trajeto é longo. Os que vão de carro podem deixar o veículo em dois estacionamentos.
Quem vai ao parque também aponta a necessidade de instalação de mais latas de lixo e de sinalização mais eficiente na pista oeste, disponível para corrida e caminhada e também usada por ciclistas.
“É um problema”, diz a criadora de conteúdo Karina Teixeira, 33, que aponta que na margem leste o uso é exclusivo para ciclistas. “Por bom senso, a prioridade daqui deveria ser para quem está correndo, porque a bike já tem uma pista só para eles”, afirma. “Quem está lá por lazer de bicicleta, geralmente, vai entender, mas quem está de ‘speed’ chega já dizendo ‘sai, sai, sai’. Isso não é legal, se quer velocidade, vai para lá.”
Para ela, como o parque está recebendo cada vez mais gente, é possível que chegue a um ponto em que a pista da margem oeste ficará sobrecarregada.
A enfermeira Rendrica Marta Furegatti, 45, usa o parque para treinos de corrida e de bicicleta. “Precisaria de um espaço do corredor, uma faixa paralela, e outra para o ciclista. Quem é atleta profissional já sabe que deve correr na beira da faixa, e não no meio, mas falta sinalização do parque em relação a isso. Placas resolveriam essa questão”, avalia.
O Consórcio Novo Rio Pinheiros, responsável pela área, diz que o parque possui sinalizações para as práticas esportivas, mas que vai intensificar a comunicações para os frequentadores.
Apesar das queixas, Karina diz gostar do espaço e conta que já frequentava o local antes mesmo de se tornar um parque. “Sou mulher e tinha um pouco de medo de vir sozinha. Hoje não tenho mais”, afirma ela, que elenca entre as qualidades o fato de o espaço ser organizado e ter diferentes opções de lazer, como parquinho, aluguel de bike e pontos de venda água de coco.
A gerente de compras Leidiane Barbosa, 35, que se prepara para correr uma meia-maratona, afirma que um dos pontos positivos do parque é que ele é plano e reto, com locais disponíveis para as pessoas se hidratarem. Conta, porém, que prefere ir ao parque na parte da manhã ou no fim da tarde, uma vez que há sombras.
Também há no local cinco centros de convivência e apoio à visitação. De acordo com a Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente do Estado de São Paulo, em breve serão inauguradas quadras poliesportivas, incluindo uma de areia, e também novos sanitários.
O trecho a ser inaugurado também deve contar com equipamentos de esporte, lazer e cultura, conforme consta no projeto.
Além disso, ambos os trechos devem receber novas áreas verdes, áreas de descanso e alimentação, serviços voltados aos ciclistas, assistência de primeiros socorros e conexão intermodal com as ciclovias e com as estações de ônibus, metrô e trem.
A construção do parque faz parte de um projeto do governo de São Paulo para despoluição e revitalização das margens do rio Pinheiros.
Lançado em 2019, o Programa Novo Rio Pinheiros já conectou 650 mil imóveis que despejavam seu esgoto no rio ao sistema de tratamento. “Isso significa que 1,9 milhão de pessoas passaram a contar com serviços de saneamento básico, o equivalente a toda população da cidade de Curitiba”, diz, em nota, a Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente.
A pasta afirma, ainda, que já foram retiradas 86,6 mil toneladas de lixo, entre garrafas PET, bicicletas, pneus e plásticos. Há também o trabalho de limpeza do leito, com remoção de mais de 779 mil m³ de sedimentos (mais de 30 mil caminhões basculantes). Como resultado direto, o rio Pinheiros já apresenta água sem odor e com a volta de vida aquática, diz a secretaria.
Folha de São Paulo 15.nov.2022 às 23h06
Notícia publicada em: 16 de novembro de 2022
Bruno Covas, Esporte e Lazer, João Doria, Obras